Nascido em 23 de junho de 1944, na cidade de Ribeirão Bonito, estado de São Paulo, João Silvério Trevisan é uma das figuras que fizeram história pelo movimento LGBTI+ brasileiro.
Estudou no Seminário Bom Jesus, em Aparecida, São Paulo, formando-se em Filosofia. Durante sua permanência no seminário cria um núcleo de estudos dedicado ao cinema e um cineclube. Deixando a vida religiosa, muda-se com a família para capital paulista e trabalha na Cinemateca Brasileira. É assistente de direção de João Batista de Andrade em Liberdade de Imprensa (1967).
Em 1968, junto de João Batista, Francisco Ramalho Jr. e Sidnei Paiva Lopes, funda a Tecla Produções Cinematográficas, e realiza a direção de produção de Anuska – Manequim e Mulher (1968), de Ramalho Jr. Edita a trilha sonora de Um Sonho de Vampiro (1969), do diretor Iberê Cavalcanti, e trabalha em funções diversas em outros filmes. Uma viagem pela Europa e África o inspira a escrever o roteiro de seu único longa-metragem, Orgia ou o Homem que Deu Cria (1970), proibido pela censura.
Em 1973, se exila na Califórnia, Estados Unidos, após assumir sua sexualidade e ser expulso de casa por seu pai. Neste período, entra em contato com o movimento gay organizado e com a mídia especializada nessa temática. Escreve os contos do livro Testamento de Jônatas Deixado a Davi, que publica na volta ao Brasil, em 1976. Em 1978, militando no movimento gay, organiza o grupo Somos pelos Direitos dos Homossexuais Brasileiros, e ajudou a fundar o jornal temático Lampião da Esquina, junto com Darcy Penteado, Adão Costa, Aguinaldo Silva, Antonio Chrysóstomo, Clóvis Marques, Francisco Bittencourt, Gasparino Damata, Jean-Claude Bernardet, João Antônio Mascarenhas e Peter Fry, publicações que representava uma classe que não possuía voz na sociedade, mostrando-se importante para a construção de uma identidade nacional pluralista. Em 1982, atendendo à demanda da editora britânica Gay Men’s Press – GMP, começa uma intensa pesquisa para escrever uma história da homossexualidade no Brasil, Devassos no Paraíso (1986), lançada simultaneamente na Inglaterra e no Brasil, sendo uma de suas obras mais celebres que está em sua 4° edição (2019) revista, atualizada e ampliada, pela editora Objetiva.
No mesmo período, escreve seus dois primeiros romances: Em Nome do Desejo (1983) e Vagas Notícias de Melinha Marchiotti (1984). Entre 1998 e 2005, realiza uma série de oficinas literárias para o Serviço Social do Comércio de São Paulo (Sesc/SP).
Hoje com seus 75 anos, João Silvério Trevisan traz consigo uma imensa bagagem histórica sobre a origem do movimento LGBTI+ no Brasil. Incansável, ainda continua escrevendo e palestrando sobre a temática, nos brindando cada vez mais com sua experiência de vida.

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Colunista - Coluna LGBTs da História

Estudante de Sociologia pela Universidade Paulista. Ativista LGBTI+. Membro do Coletivo Movimento Construção.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional do Coletivo Movimento Construção – Parada LGBTI+ de Londrina.