Nessa última semana, em diversos países pelo mundo, as pessoas se mobilizaram em protestos diante dos crimes de racismo e discriminação cometidos contra os negros, em especial no caso de George Floyd. Ele, afro-americano, morreu em 25 de maio de 2020, vítima do Estado representado no policial Derek Chauvin. O policial de Minneapolis aplicou força extrema em sua ação, ajoelhando-se no pescoço de George, já imobilizado, por pelo menos sete minutos, levando George à morte.
Isso me fez recordar de uma discussão que tive quando fiz pós-graduação em Educação. Penso que esses exemplos de preconceito que vivenciamos na sociedade poderiam ser minados na infância, pois são construções a partir de situações que expomos as crianças. Quantos preconceitos tenho e me pergunto de onde criei aquela forma de ver aquele outro específico. Nós criamos essas construções partindo daquela velha lei da natureza “o que prevalece é o mais forte”, assim há uma tentativa de eliminar o outro.
A discussão se dava em torno de fato que aconteceu em um Centro de Educação Infantil. Uma criança negra, candomblecista foi impedida de entrar na escola, pública, em razão de sua profissão de fé. Foi impedida de entrar na escola utilizando guias de candomblé sob o uniforme. A criança frequentava a religião tradicional de sua família, desde seus ancestrais. Para sua religião, o garoto deveria usar as guias durante três meses como parte dos preceitos de sua crença.
A diretora proibiu o menino de entrar na escola com suas guias, ou com quaisquer trajes ou símbolos, característicos do candomblé, da religião da família. Com as guias por baixo da camisa do uniforme, de bermuda e boné brancos, porém com a camiseta da escola, a criança foi proibida de entrar na escola e assistir às aulas. A diretora alegava que a criança estava usando roupas fora do “padrão adequado”. A mãe do aluno disse que tinha conhecimento apenas de que o uso da camisa com o logotipo da escola era obrigatório.
Outros alunos usavam boné, bermuda e calça de outras cores, além de tênis coloridos no dia em que a criança foi barrada. “A diretora colocou a mão no peito do meu filho e disse que ele não entraria com as guias, que estavam por baixo da camiseta”, disse a mãe da criança na ocasião. A mãe afirma que a criança ficou envergonhada e não quis mais frequentar a escola após a situação. Como no dia estavam colegas, outros pais e professores, a criança foi exposta ao ser barrada e se sentiu mal para retornar.
O pai de santo da criança contou que após ser iniciado no candomblé, a pessoa, além de não poder pegar sol, precisa usar roupas claras, tapar a cabeça e usar as guias por um período de três meses. De acordo com ele “A religião tem o seu simbolismo e suas tradições, que precisam ser respeitadas”. Em todo caso, a Escola é laica (ou deveria ser, porque a bíblia aberta na sala do diretor diz muito) e deve receber todos os indivíduos, independente do credo que professa, promovendo uma cultura para a diversidade. Deve trabalhar para combater a intolerância religiosa e o preconceito na tentativa de que tais práticas não sejam naturalizadas, promovendo a conscientização e mudança na sociedade.
Continuaremos falando sobre temas relacionados à Educação e a comunidade LGBTQIA+. Para encaminhar questionamentos, temas, dúvidas, críticas, elogios, sugestões e afins, escreva para [email protected]
Fascismo não é ideia, muito menos opinião para ser respeitada.
Rodrigo Cavallarin
Rodrigo Cavallarin
Colunista - Coluna Humanizar
Mestrando em Educação, possui especialização em Recursos Humanos, Gestão Escolar, Educação Infantil e Psicopedagogia. Graduado em Administração e Pedagogia. Já atuou como Educador Social junto ao serviço de proteção à crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e atualmente atua no Ensino Superior.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional do Coletivo Movimento Construção – Parada LGBTI+ de Londrina.
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