Hoje pela manhã, aqui em minha cidade, o comércio foi reaberto. Parte da população e entidades civis pressionaram o poder municipal para que fossem retomadas as atividades comerciais na cidade. Obviamente que medidas de segurança foram estabelecidas pela equipe gestora do município para que esta reabertura ocorresse de forma segura e garantindo assim a saúde da população.
Passados mais de um mês da necessidade de distanciamento social, as redes sociais nos mostraram que a população não teria maturidade para o retorno às atividades obedecendo a orientações estabelecidas pelo município. Sim, as redes sociais são bons termômetros para medirmos diversos modelos de comportamento.

O contato físico é uma ação constante do nosso cotidiano, costumeiramente as pessoas proseiam nas filas de ônibus, nas lotéricas, enquanto aguardam o caixa da loja chamar para o pagamento. As pessoas são, por natureza, agregadoras. Interagem com o próximo e prezam pelos ritos e atos sociais. Ou seja, desejam, a maior parte das pessoas, estarem em grupos.

Em um contexto não epidêmico, isso tudo é muito saudável. Nós que acreditamos que a Educação e o processo de humanização dos indivíduos se dão por meio das relações de trocas, prezamos por esse envolvimento social. O que venho pensando desde o início do isolamento é como serão estabelecidas as relações pós pico epidêmico?

Tudo é muito incerto com relação ao que estamos vivendo, controlar este vírus que exige de nós o distanciamento social pode levar mais um mês, seis meses, um ano, dois… Enfim, não sabemos. O que sabemos é que pessoas já estão tomando atitudes diferenciadas e que farão parte de sua vida pós epidemia. Eu conversava com um amigo estes dias que dizia ser uma pessoa de muito contato físico, adora abraços e sua afetividade se caracterizava em grande parte pelo contato.

Para ele, este momento tem forçado a agir de forma diferente com as pessoas. Não com menos afeto, no entanto, aprendendo a se distanciar fisicamente. Muitas pessoas podem estar passando por este processo, não beijam mais, não tocam, não abraçam e em alguma medida esse comportamento vai se incorporando como uma natureza. Em distanciamento social tendemos a ser mais individuais. Somado isso à falta do contato físico, pode ser que estejamos construindo novas formas de relação que seguirão internalizados para uma vida pós epidemia.

Precisamos estar atentos para que os hábitos e práticas sociais que estamos construindo, de forma emergencial neste momento de epidemia, não sejam naturalizados para uma vida de distanciamento nos tempos que virão. Somos uma espécie que se desenvolve em grupo, que externaliza sentimento, que ama, sorri, chora, se compadece, possui empatia, torce pelo outro, é esperançosa. Enfim, construímos a natureza do ser humano pelo próprio contato social.

Desumanizar é uma das hipóteses. Assim como sair mais forte e mais humanos desse período é uma possibilidade, desumanizar também. Que tipo de indivíduos teremos após este período que exige de nós o distanciamento social? O distanciamento pode estar sendo físico, mas também, pode estar nos distanciando do que é ser humano como conhecemos hoje, pelo menos nos aspectos que, para além do biológico, tornam a espécie humana em seres humanizados.

Continuaremos falando sobre temas relacionados à Educação e a comunidade LGBTQIA+. Para encaminhar questionamentos, temas, dúvidas, críticas, elogios, sugestões e afins, escreva para [email protected]
Fascismo não é ideia, muito menos opinião para ser respeitada.
Rodrigo Cavallarin

Rodrigo Cavallarin

Rodrigo Cavallarin

Colunista - Coluna Humanizar

Mestrando em Educação, possui especialização em Recursos Humanos, Gestão Escolar, Educação Infantil e Psicopedagogia. Graduado em Administração e Pedagogia. Já atuou como Educador Social junto ao serviço de proteção à crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e atualmente atua no Ensino Superior.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional do Coletivo Movimento Construção – Parada LGBTI+ de Londrina. 

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