Começo o texto de hoje pensando na letra M:
M de Março, M de mulher, M de maternidade, M de movimentos e um M de mudanças. Que possamos olhar para as mulheres todos os dias, um olhar que não se restringe a uma data simbólica. Um olhar que nos leva a diversas interrogações nos tempos atuais, afinal as discussões sobre gênero, sobre sexualidade e sobre o feminino parecem ter tomado o centro dos debates atuais. O que quer uma mulher? Essa foi uma das perguntas clássicas que Freud fez ao longo do século XX, quando várias ciências buscavam descobrir os mistérios do feminino. E a pergunta que coloco neste texto para refletirmos é a seguinte: o que queremos com as mulheres? O que temos feito com o feminino?
Desejar um feliz dia das mulheres e enviar flores a todas que se identificam como mulher no contemporâneo é superficial demais diante da realidade que nos alerta todos os dias sobre um cenário permeado de violências, medos, silêncios e tabus. Falar das mulheres, escrever sobre elas é também repensar os contornos da masculinidade contemporânea. Me parece que o valor da virilidade se liga à força e à coragem, um masculino que está aprisionado na potência e assim é possível perceber que o masculino se posiciona de uma forma violenta quando se vê banido do seu posto de virilidade. Observo que a cultura capitalista colocou o feminino como fetiche e que a cultura do estupro é capitalista. A mercadoria é “fetichizada” e dentro de um cenário feminista atual as mulheres tem voz e declaram: “eu posso dizer não, eu posso não aceitá-lo, eu posso ser a mulher que quero ser e me empoderar daquilo que eu sou.”
Clarice Lispector disse uma vez: “já que sou, o jeito é ser.”
O teu lugar mulher é onde você desejar estar e de ser o que quiser. Escolhi essa música: triste, louca ou má justamente porque ela canta essa verdade. Que receita cultural é essa que condiciona, limita e sufoca? Nada pode definir o poder de uma mulher: você é o seu próprio lar. Um órgão pode definir o que é uma mulher? Um homem pode definir a trajetória individual de uma mulher? Me parece que a submissão não é mais um lugar encontrado no universo feminino.
Que neste mês das mulheres possamos dar a elas apoio, direito, respeito e muita voz. O feminino permeia todos os seres humanos. Não coloquemos o feminino dentro de caixas deterministas que limitam o ser incrível delas: este é o momento de permitir que as cores ocultas do feminino sejam mostradas, vistas e talvez esclarecidas. Quantas cores uma mulher tem? Como limitar o universo feminino em uma única cor, se o que elas têm mostrado ao longo da história é muito mais do que uma cor?
Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. (Simone de Beauvoir)
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Jorge Matheus Simões
Colunista - Coluna JM
Formado em Psicologia pela Faculdade Pitágoras, faz especialização em Ensino de Sociologia pela UEL – Universidade Estadual de Londrina. Trabalha como psicólogo clínico atendendo adultos, casais e famílias. Colunista, escritor e pesquisador em temas que envolvem a sexualidade humana e a população LGBTQI+.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional do Coletivo Movimento Construção – Parada LGBTI+ de Londrina.
Para sugestões de pautas a redação, envie um e-mail para [email protected]