Falar sobre as mulheres nunca é uma tarefa fácil, principalmente na contemporaneidade quando surgem inúmeras formas de abordar esse assunto tão enriquecedor em detalhes e argumentos. A temática surgiu através de um diálogo com uma amiga que possuo um apreço imenso, e que me transborda de afeto pelo seu discurso empoderador e sua singularidade. Ainda ressalto que essa mesma amiga desempenha um papel importante em nossa sociedade com o seu projeto que visa descontruir estereótipos e nos interrogar sobre a visão que temos da sexualidade na sociedade. Ah! Ela tem um perfil no Instagram que vale muito a pena dar uma conferida: @despalestra.

Mas enfim, em nossa conversa lembramos do Dia Internacional da Mulher, e a sua importância histórica por simbolizar a luta por direitos iguais perante a sociedade. Além disso, discutimos também a história do preconceito ao feminino, e ao que pertence ao mundo da mulher, me transportando para diversas indagações, principalmente através de um olhar questionador dentro das possibilidades de relacionar a temática com a comunidade LGBTQIA+.
Afinal, dentro desse grupo temos as mulheres que se relacionam com outras mulheres, as mulheres que, além disso, também se relacionam com homens, as que sentem atração sexual por vários gêneros, as que não sentem atração por nenhum, enquanto outras sentem atração certas vezes. Há também aquelas que um dia não foram visualizadas pela sociedade como mulheres, mas que perceberam que não nasce mulher, se torna mulher.
Como bem colocado por Simone de Beauvoir, uma mulher além do seu tempo, que se tornou um dos maiores símbolos do movimento filosófico, político e feminista do século XX. Em O segundo sexo (1980) ela relata que “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino.”
O que falar desse feminino, que nada mais é que uma construção social que define suas características e seus comportamentos. No entanto, pensar sobre o feminino é ampliar nossas possibilidades de definição, pois não há uma relação com a genitália, com suas roupas e a forma como se percebe enquanto sujeito. A sociedade e seus estereótipos que rotulam os desejos e as necessidades das mulheres.
Quando falamos de sexualidade e mulheres, destacamos as transexuais e as travestis, pois, além de terem que enfrentar o machismo, também sofrem com o preconceito transfóbico, para alguns não é mulher, para outros o discurso de sua genital, de sua transformação e de como elas muitas vezes – quase sempre – são marginalizadas pela sociedade.
Devemos lembrar a invisibilidade desse grupo, com falta de oportunidades de trabalho e estudo, levando muitas para a prostituição por ser a única forma possível de sobrevivência. Além disso, o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo, no entanto, também lidera o ranking dentre os países que mais busca conteúdo adulto com transexuais. A contradição das lideranças nos indaga sobre a forma como observamos esses corpos e as suas identidades.
Além do mais, podemos observar o preconceito que mulheres bissexuais muitas vezes sofrem por ser incompreendida pela sociedade, devido à forma que se relaciona com as pessoas. Entretanto, algumas são vistas como um fetiche pelo masculino que transita no desejo sexual, por conta das possibilidades de uma relação sexual.
O mesmo ocorre com mulheres lésbicas pelo olhar sexualizado dos homens ao presenciar o afeto sexual entre mulheres, ademais, aquelas que possuem comportamentos masculinizados, dentre as definições sociais do masculino, também são vítimas do preconceito, por não se enquadrar no que é imposto para o perfil feminino.
Não podemos observar as mulheres através de uma perspectiva da construção social de papéis, pois, elas são livres para serem o que querem, da forma como desejarem, buscando o gozo pela sua essência e vivências.
O feminino ultrapassa as definições compreendidas pelo outro, não devemos criar rótulos, produzir discursos baseados em uma história que foi modificada pelo tempo. Contudo, ainda percebemos o olhar para o feminino que dita regras e padrões, sufocando as mulheres, as transformando em objetos passíveis de mudanças desnecessárias.
Sendo exigidas pelo social que as percebem através de um olhar critico, que as definem pelas suas roupas, pelo seu peso, seus comportamentos, pela busca de ocultar suas características que as tornam singular.
Falar das mulheres não deve ser apenas um dia, em um momento, a partir de uma conversa. Precisamos discutir diariamente através de diversas configurações possíveis, principalmente enquanto buscamos a visibilidade que elas necessitam, enquanto as mulheres não têm os mesmos direitos que homens. Seja o salário, os valores e seus discursos.
É preciso frisar que o feminismo não visa sobressair os direitos dos homes, o feminismo luta por direitos iguais, luta contra o machismo e toda a estrutura desenvolvida socialmente dos papéis de homens e mulheres. O Feminismo almeja que o gozo feminino possa ser vivenciado por todas que possuem seus desejos latentes.
Por isso, sempre será necessário falarmos das mulheres de várias idades, de várias cores e de muitos amores. Pois, precisamos falar das mulheres que são mais que genitália, são muito mais que corpos, porque são almas!

 

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Desempenhe um empoderamento consciente! #empoderamentofeminino #despalestra

Uma publicação compartilhada por Des (@despalestra) em 6 de Mar, 2020 às 2:43 PST

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Fernando Veiga

Fernando Veiga

Colunista - Coluna Gozo

Psicólogo e Sexólogo, especialista em Sexualidade Humana com ênfase em terapia e educação. Orienta seus estudos e trabalhos para as temáticas LGBTQIA+. Atua na área clínica com abordagem psicanalítica em atendimentos presencial e online. Psicólogo Social na Assistência Social do Município de Nova Fátima – PR. Trabalha com palestras direcionadas as vertentes da psicologia e sexualidade humana.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional do Coletivo Movimento Construção – Parada LGBTI+ de Londrina. 

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