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Sempre antes de criar um conteúdo para coluna, busco referências na literatura e no mundo da internet, e assim quando fui pesquisar sobre a próstata vi muito sobre a glândula masculina, e a possibilidade da próstata feminina, que apesar de anatomicamente diferente, há relatos que comprovam sua existência. Além disso, encontrei diversas dicas de como apimentar uma relação, mas sempre dicas referentes a um casal heterocisnormativo, no qual a mulher deve instigar o seu parceiro aos prazeres da próstata, ou dicas de como um homem se estimular. Desta forma, percebi que é muito raro encontrarmos materiais que rompem com o sistema binário e a heterocisnormatividade.
E esse é o meu papel por aqui, levar informações amplas que corrompem essa estrutura, pois somos sujeitos livres e que possuímos uma sexualidade fluída, que não deve ser enquadras desta maneira. Todxs temos o direito de explorar nossos corpos e buscar vivências prazerosas para o ápice do prazer.
O que nos leva a questionar os rótulos que são utilizados ao falar da próstata masculina, e não da próstata do macho/intersexo, e o mesmo ocorre na próstata feminina que é visualizada como pertencente apenas a fêmea. Pois, devemos compreender que o masculino e feminino é uma construção social, e que os corpos anatômicos não devem ser interligados a esse discurso. Afinal, há mulheres com anatomia de macho/intersexo que também pode explorar seus prazeres, e da mesma forma, os homens que tem vagina e que necessitam conhecer seus corpos sem apenas encontrar conteúdos específicos para o feminino social.
Sabemos que geralmente questões pertinentes à sexualidade sempre estão repletas de tabus, seja a respeito de performances sexuais, identidade de gênero ou orientação sexual. A forma como gozamos causam indagações, no entanto, devido os parâmetros sociais nem sempre buscamos respostas, e às vezes nos frustramos ao encontrar conteúdos, e por isso preferimos ocultar nossas pulsões, deixando de vivenciar toda a potencialidade de prazer que nosso corpo nos proporciona.
E assim vamos falar da próstata, não como uma glândula masculina, mas como um órgão presente no corpo do macho/intersexo que possui o tamanho de uma noz, está localizada entre a base do órgão genital e o reto, e é responsável por 80% da produção do sêmen, além disso, suas secreções são essenciais para manter os espermatozoides vivos.
Entretanto, ainda há muito preconceito em relação a essa região do corpo, e pouco investigada como zona de prazer, devido uma construção baseada no machismo e sexismo da nossa sociedade. Enquanto a maioria dos homens cisgênero e heterossexual acham que isso é coisa de viado. Alguns membros da comunidade LGBTQIAP+ também repetem um discurso preconceituoso em relação a essa prática.
Vivemos em uma sociedade no qual a única fonte aceitável de prazer do homem cisgênero é o pênis, descartando outras perspectivas de estímulo. Porém, nosso corpo possui outras possibilidades de prazer, pois qualquer região genital, perineal e algumas partes internas do reto e da uretra são ricas em terminações nervosas, que podem auxiliar no gozo.
E apesar da próstata ser vista como o ponto G do macho/intersexo, muitas pessoas se abstém dessa possibilidade de prazer, por não concordar com a prática, e por pensar que só é possível ejacular com o uso do pênis. Porém, a próstata pode proporcionar orgasmos mais longos e prazerosos. Vale a ressalva que ejacular não é sinônimo de ter orgasmos, um pensamento errôneo muito comum em nossa sociedade.
O êxtase do orgasmo difere de uma simples ejaculação, no entanto, diversas pessoas preferem não obter esse tipo de estímulo de prazer, simplesmente por viver em uma sociedade no qual reduzem sua fonte de prazer em uma relação sexual.
Em relação à comunidade LGBTQIAP+, devemos pensar que somos frutos de uma sociedade heterocisnormativa e pela relação do poder, desta forma, reproduzimos muitos discursos preconceituosos. Há a distinção do passivo e do ativo, no qual o passivo é visto como aquele que exerce o papel do feminino, enquanto o ativo é representado pelo arquétipo do masculino.
Sendo assim, muitas relações sexuais são limitadas dentro desse parâmetro normativo. Pois, há aqueles sujeitos que não gostam de serem penetrados, alguns por questões físicas, e outros preferem manter uma postura imposta socialmente, no qual é inaceitável o toque na região anal.
A próstata fica no sistema urinário, e não no intestinal e para atingi-la é necessário introduzir pelo reto, cerca de 7 centímetros o dedo, pênis, ou os diversos brinquedos disponíveis no mercado erótico que garantem a estimulação da glândula.
Conhecido também como “fio terra”, a prática deve ser feito com cautela, sendo necessário algumas informações para tornar a relação sexual mais prazerosa e segura para ambos.
Por isso é imprescindível o uso de lubrificante a base de água, há aqueles que utilizam lubrificantes com anestésicos para evitar dores ou incômodos durante a relação.
Além disso, sempre utilizar preservativos, pois, apesar de muitas vezes ser feito a limpeza do reto, conhecido também como “chuca” entre pessoas da comunidade LGBTQIAP+, o ânus mantém certas bactérias que permanecem mesmo com a higienização, importante também ter as unhas curtas durante a prática para evitar lacerações no ânus. Ademais, em uma relação de ânus e vagina, sempre mudar o preservativo na troca de orifícios evitando contaminações.
Há sempre inúmeras formas de obter prazer em uma relação sexual, a construção social também afeta a forma como gozamos, e como buscamos fontes de prazer. Limitamo-nos o tempo todo, baseado em preconceitos, e na projeção em relação a forma como o outro irá reagir sobre nossos desejos e pulsões.
O primeiro passo é sempre conhecer o nosso corpo, pois apesar da literatura abordar essa temática e pontuar regiões com maiores terminações nervosas, que podem ampliar nossos orgasmos, somos os únicos capazes de compreender o que nos dá prazer, quais são partes que nos levam ao ápice. Por isso a importância do toque, das descobertas para que não nos limitemos dentro de regras que mostram apenas o superficial. Nosso corpo é mais do que isso, e nossos desejos também.
Hoje há no mercado erótico inúmeras possibilidades de expandir nossas possibilidades e vivências dentro de uma performance sexual, seja sozinho, ou com outras pessoas. Use e abuse dessas possibilidades para um melhor orgasmo.
Além do mais, em uma relação sexual tudo é passível de vivência deste que todos estejam de acordo com as possibilidades de expandir as zonas erógenas e os nossos desejos. É preciso nos desprender das amarras sociais e de todo o pudor, para que desta forma nossa libido se aflore e permita aos prazeres de todo o nosso corpo.
Por isso, se aventure e se descubra, pois nossos desejos não podem ser limitados por alguém ou algo, somos donos dos nossos corpos e precisamos desvendar os nossos prazeres, buscando a plenitude do gozo.
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Fernando Veiga
Colunista - Coluna Gozo
Psicólogo e Sexólogo, especialista em Sexualidade Humana com ênfase em terapia e educação. Orienta seus estudos e trabalhos para as temáticas LGBTQIA+. Atua na área clínica com abordagem psicanalítica em atendimentos presencial e online. Psicólogo Social na Assistência Social do Município de Nova Fátima – PR. Trabalha com palestras direcionadas as vertentes da psicologia e sexualidade humana.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional do Coletivo Movimento Construção – Parada LGBTI+ de Londrina.
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